25 junho 2010

A razão e o prazer de cozinhar

Não conheço um único cozinheiro capaz de dispensar um elogio. O que muda é a forma de pedir e receber. Minha mãe é daquelas que serve a receita avisando "não deu muito certo, errei a mão hoje". Alguém acredita? Claro que não. E se algo desandou mesmo, depois desse mea culpa, quem vai ter coragem de dizer algo? Já minha irmã frequentou outra escola: alardeia, serve fazendo barulho, diz que nunca ninguém provou nada igual, que ela finalmente chegou à receita definitiva de tal quitute. Acredita que está tão perfeito que convence todo mundo mesmo se houver um açúcar a mais aqui ou um sal a menos ali. E, para completar, é daquelas que não compartilham receitas e segredos sem antes fazer você implorar de joelhos! E eu? Bom, acho que fico no meio termo das duas: a timidez me ensinou a não dar bandeira, mas confesso que sempre que alguém prova algo que eu fiz, seja um simples brigadeiro ou algo bem mais elaborado, sinto um "tan tan tan tan!" à la Beethoven dentro de mim. Delícia quando o elogio vem em seguida!

Sabe o que me deixa extremamente feliz em um restaurante ou no balcão de qualquer doceria? A pergunta sincera, seja do chef, do garçom ou do atendente: "O que achou, gostou?" Para mim, demonstra não apenas o interesse de vender, mas o de realmente agradar o meu paladar. É verdade que diante desta pergunta eu passei por muita saia-justa pois, por conta de alguns trabalhos, já testei muita coisa em um mesmo dia. E aí, as leis da saúde, da circunferência da cintura e, porque não dizer, do bom senso mesmo, nos obriga a apenas provar, deixando com dor no coração um tantão no prato. Mas acho que me saí bem com as respostas na maior parte das vezes, pois quando gosto, elogio mesmo, sem medo de ser feliz. E aí, abre-se aquele sorrisão, gostoso. Afinal, há outro motivo para cozinhar se não for para agradar os amigos, os parentes, os amores - e também os clientes?

Isso me fez lembrar um trecho de Para Viver um Grande Amor, do Vinicius, que reproduzo abaixo. Que sirva de inspiração para aquela bagunça que você certamente vai fazer aí na sua cozinha no fim de semana!  
  
(…) Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, estrogonofes – comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor? (…)

8 comentários:

  1. Nossa, que texto inspirador. Vai escrever assim na pqp! rs Parabéns, viu? Bom fim de semana com as panelas, Dani.

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  2. Oie Mônica!!!
    Gostei do blog, depois dá uma passadinha no meu!

    http://sodoresedelicias.blogspot.com/

    Beijãooo

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  3. Engrosso o "caldo" do comentário lá de cima: o texto tá uma delícia mesmo, dá até vontade de morder um pedacinho...rs

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  4. sou eu , agora devidamente reconhecida.

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  5. Cláudia Pinto2/7/10 2:12 PM

    Saboroso mesmo é seu texto. Lambi os beiços! Dele vc também curte um elogio, garanto! E, melhor ainda, escrever não engorda e nem dá celulite! kkkkkkk
    Quero +!
    bjoca

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  6. Cozinhar é conjugar ousadia com humildade. Adorei o texto.

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  7. Não consigo chegar aos elogios. Cozinho para mim mesmo e sou autocrítico demais

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