28 dezembro 2009

Uma tacinha procê, outra pra mim!

Finalzinho de ano, estava eu aqui pensando no post derradeiro... Comecei até a elaborar uma listinha de tudo aquilo que o Gulodice poderia sonhar para 2010:

"Que não falte um bom azeite e ervas frescas da horta/que todos os bolos e tortas desenformados fiquem perfeitos/que nenhum molho desande/que todos os pães cresçam lindamente/que ninguém na face da terra erre o ponto do brigadeiro/que todas as calorias sumam das receitas que a gente mais gosta"...

Mas aí parei e lembrei que uma cozinha sem erros e uma gulodice sem nenhum resíduo de culpa é meio sem graça, não? Pois vejam só: fiz uma tarte tatin para o Natal que não ficou, digamos, linda-maravilhosa, mas para estreante, até que me saí bem e a família (que neste dia não ousaria criar nenhum tipo de discórdia, é claro!) devorou tudo dizendo que estava perfeita. Para quem não sabe, essa famosa torta de maçãs, assim como tantas outras receitas divinas, é justamente o resultado de um erro ocorrido há mais de um século no Hotel Tatin, no Vale de Loire, na França.

Reza a lenda que após a morte do dono do hotel, as filhas Caroline e Stéphanie assumiram o negócio. A primeira administrava e a segunda cuidava da cozinha. Em um dia de muita correria, ao invés de colocar as maçãs cozidas na manteiga sobre a massa, ela colocou a massa sobre as maçãs. Como não dava tempo de fazer outra torta, mandou para o forno assim mesmo e depois inverteu sobre um prato. Como dá para imaginar, a história teve final feliz e a tarte tatin se tornou um clássico.

Então, para 2010, o Gulodice deseja apenas:

Que todos os cozinheiros profissionais ou não continuem a experimentar muito e sem medo de ser feliz. E que dessa aventura deliciosa nas cozinhas do mundo afora apareçam novas gulodices doces e salgadas para que a gente possa alimentar o corpo e a alma, dividir com os amigos, trocar receitas...".

Uma tacinha procê, outra para mim e... tin-tin!
Até 2010.


PS.: Ainda não fui ao cinema ver Julie & Julia, mas li o livro que inspirou o filme, o Minha Vida na França, lambendo o beiço e dele tirei uma lição: às vezes, para acertar uma receita, é preciso fazê-la mil vezes. Então, promessa de ano novo é preparar muitas tarte tatin, até que ela fique "linda-maravilhosa", igualzinha a dos chefs franceses.

16 dezembro 2009

Tartufo branco a R$ 28 mil o quilo. Vai levar, madame?

Me irrita quando as pessoas chamam tudo de iguaria. Na acepção da palavra, não está errado. Iguaria, segundo os dicionários, é uma comida delicada e apetitosa, como costuma-se dizer, um "manjar". Mas para mim, coxinha não é iguaria e sim quitute, brigadeiro não é iguaria e sim guloseima - e que fique bem claro, isso não desqualifica essas delícias calóricas que eu tanto gosto.

Agora, tartufo bianco ou trufa branca me convence de que merece o título. E não é só pelo preço não, mas sim por ser selvagem: se trata de um tipo de fungo subterrâneo que nasce espontaneamente nas proximidades das raízes de carvalho e castanheiras. Tipo assim, ao sabor da natureza. Ninguém diz vou colher trufas, mas sim caçar trufas. Em outras palavras, é um achado que, em finas fatias, perfuma e dá nobreza a carnes, saladas, massas e até a um singelo ovo frito. A razão para os preços estratosféricos, evidente, é pelo fato de se encontrar pouco tartufo branco a cada ano.

As melhores e mais raras trufas brancas do planeta vêm de Alba, cidade na região de Piemonte, onde há mais de sete décadas existe até uma Feira Nacional do Tartufo. O evento é um acontecimento, que inclui até um leilão (comandado por um ator de cinema) do maior do tartufo encontrado naquele ano.

Bom, mas porque comecei a falar disso? Porque vi a notícia de que em três únicos dias a Casa Santa Luzia (Al. Lorena, 1471, 3897-5000) vendeu três quilos da iguaria (sim, já concordamos que é iguaria, certo?) por R$ 28 mil o quilo. E sabe do que mais? Eles ainda tem mais um quilo guardadinho, que será vendido de sexta (18) a domingo (20). Só um quilinho, entendeu? Fico imaginando a fila para comprar tartufo... Dez gramas sai por R$ 280. Tem cacife (e coragem) para encarar?

09 dezembro 2009

Todos os ingredientes do mundo!

Quer dizer, todos não. Mas muito deles. Hoje, em vez de um endereço novo de gulodices, quero compartilhar um livro. Não é lançamento nas livrarias, mas é sim na minha cozinha e na minha biblioteca. E cai de boca, estou apaixonada e acho que não pode existir cozinha sem um destes. Simples, incrivelmente ilustrado, Ingredientes (Loukie Werle e Jill Cox, Editora) é tipo assim, um livro de referência. Quer saber onde usar cerefólio, vá à página 12. Para entender a diferença entre o pennelisce, o penne rigate, o pennoni e o pennoni rigati, abra o livro na página 181. Para conhecer a família do senhor pepino, da qual fazem parte também o pepino libanês e o pepino ridge, consulte página 100. E assim por diante, tudo com foto. Confesso, torci o nariz na seção de carnes, mas faz parte do negócio... Então tá!